sexta-feira, maio 01, 2009

Eu venho do norte, filha do frio


Já quase não sobra nada da minha pele a que te possas agarrar ou que eu te possa dar. Desculpa! Esta camada de gelo que me engole lentamente o corpo há de me cobrir toda no frio anestesiante e eu já não vou sentir mais nada... mas tu vais continuar a sentir, tudo. Desculpa!

Se eu te parecer mais pálida, o meu olhar menos limpo, a pele mais baça, o meu sorriso mais rígido, é só do gelo em mim que me protege. Eu sempre preferi o frio. E o frio nunca me deixa, nunca me larga.

Quando eu desaparecer finalmente, toda eu engolida por mim gelada, não fiques triste, não por mim. Fui para um sítio melhor. O lugar sem memória, sem dor, sem mim e todo o fracasso de ser eu.

Eu venho do norte, filha do frio, e o bom filho à casa torna.

Imagem:
Fotografia de Carlos Romão do blog A Cidade Surpreendente.

1 comentário:

oui, c'est moi! disse...

Eu tenho um coração grande e que tem sempre a lareira acesa... e tu, hás-de ter sempre um lugar lá dentro que não pertence a mais ninguém. Enquanto o quiseres ocupar, havemos de construir juntas muitas memórias, cheias de risos e de felicidade e de lágrimas doces. A dor, "fazemos a cozinha" com ela, à moda tradicional, em tacho de barro e à lareira. Que me dizes? :)

Beijo daqueles que tu sabes que só tenho para ti.