
O poema perguntou ao tempo
quanto tempo tinha para viver.
O tempo respondeu ao poema
que o poema já não vive há tanto tempo
quanto tempo deixou de se escrever.
A lágrima perguntou ao tempo
quanto tempo ainda havia de chorar.
O tempo respondeu à lágrima
que a lágrima choraria tanto tempo
quanto tempo ainda houvesse a respirar.
O coração perguntou ao tempo
quanto tempo até deixar de sentir.
O tempo respondeu ao coração
que o coração sentiria tanto tempo
quanto tempo ainda levasse a partir.
O poema desmantelou-se ali mesmo,
sem páginas onde viver,
sem dedos com que escrever.
A lágrima caiu,
uma seguindo a outra fluiu,
e sem parar, lágrima a lágrima tudo se repetiu.
O coração cansado, parou...
e poema, lágrima e tempo,
assim tudo se calou
e o tempo de perguntar ao tempo,
sem mais tempo, terminou.
Imagem: "Dali's London Time Warp" by Barbara Eggermann.
1 comentário:
eu gostava de escrever assim...
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