
Menti!
Menti quando disse que nunca te apagaria.
Menti!
Menti porque não sabia que mentia...
Menti porque achei que talvez um dia...
Menti porque sonhei que se eu esperasse...
Menti porque pensei que se não desistisse...
Menti porque esperei que nada mudasse...
Menti porque guardei tudo para que não se apagasse...
Menti porque acreditei que se eu nunca te largasse,
tu ainda me segurasses.
Menti!
Reservei um espaço para te guardar
que é maior do que eu.
E agora, guardar-te é um fardo pesado demais
que já não quero carregar.
Agora, lembrar-te é uma nuvem cinzenta
que não quero mais que chova em mim.
Menti!
Queria ter-te para sempre,
a ti, a mim contigo, a nós,
e, se não a ti,
ao que podia ter tido de ti,
ao que tive,
ao que perdi.
E nestes dias de chuva,
nestes dias de frio,
lembro os domingos quentes que cravei bem fundo no meu peito
para ninguém roubar.
Menti!
Tentei guardar tudo, guardar-te todo num espaço inacessível
onde ninguém, nem eu, conseguisse chegar para o destruir.
Mas já não há espaço em mim para pedaços de ti,
preciso de espaço livre,
preciso de ser leve
para pelo menos tentar.
Menti quando te disse que nunca te apagaria.
Menti!
E hoje, cumpro a minha mentira.
Apenas a chuva, dentro e fora do meu quarto,
presencia quando te liberto de mim e me apago de ti.
Menti!
E agora, não há mais nada a dizer a não ser,
"Boa noite! Sonhos lindos... para mim também!"
Imagem: Frame do filme "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" de Michel Gondry.
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